Lionel Messi
A nostalgia é um dos sentimentos mais fortes nas relações humanas. Usada para defender o passado por meio de uma sensação de saudade muitas vezes idealizada e talvez irreal, está associada a desejos sentimentais de regresso que nos trazem fortes lembranças, muitas vezes nos impossibilitando de desfrutar corretamente o presente.
No esporte, esse conceito também é muito forte. Quantas vezes você não conversou sobre futebol com algum membro mais experiente de sua família e ele não trouxe inúmeras lembranças sobre como “o futebol era melhor antigamente”. É muito difícil para os jogadores do presente superarem esse dilema e se estabelecerem entre os grandes nomes da história, mas alguns nomes em especial superaram tantas marcas e quebraram tantos recordes que, enfim, são devidamente conhecidos como os maiores. Lebron James, Michael Phelps e Lionel Messi são três dos grandes nomes de basquete, natação e futebol respectivamente, que fizeram história no século XXI.
Agora, o que fez com que Lionel Messi atingisse esse status que, apesar de também despertar muitos haters, o colocasse definitivamente no hall dos maiores jogadores da história do futebol? Para entender, é necessário voltar na infância do atacante argentino e compreender todos os obstáculos pelo qual ele passou e como foi seu comportamento até o sucesso imenso no Barcelona.
A infância de Lionel Messi
Lionel Messi é filho de Messi e Celia Cuccittini e nasceu em Rosário, província de Santa Fé. Ele tem três irmãos, dois irmãos mais velhos, Rodrigo e Matias, e uma irmã, Maria Sol. Seu pai era operário de fábrica e sua mãe trabalhava como faxineira de meio expediente.
Na idade de cinco anos, Messi começou a jogar para o Grandoli, um clube local treinado por seu pai. No momento em que ele fez oito anos, ele estava jogando para o Newell’s Old Boys, clube argentino que chegou a disputar a Copa Libertadores nos últimos anos. O grupo era imensamente talentoso, o que é visível pelo fato de terem perdido apenas um único jogo nos em quatro anos. Foi seu puro interesse e talento para o jogo que fez o grupo popularmente conhecido como “A máquina de 87”.
Mesmo tão jovem, Lionel Messi já demonstrava uma capacidade incrível de talento e traços de estilo de jogo semelhantes aos que desenvolveu no Barcelona e apresenta até hoje. Grande capacidade de jogadas individuais e dribles curtos já o colocaram em outro patamar desde criança. Apenas uma coisa poderia segurar esse garoto do sucesso inevitável: aos 11 anos, Messi foi diagnosticado com deficiência de hormônio do crescimento, precisando assim passar por um tratamento caro para a realidade da família na época.
Lionel Messi e sua família buscaram por grandes clubes argentinos esperando que eles pudessem arcar com o tratamento de Messi para contar com o imenso talento do jovem, mas nenhum se comprometeu a isso. Nesse momento, um diretor esportivo do FC Barcelona chamado Carles Rexach fez uma decisão que mudou a história da vida de Messi, do Barcelona e do futebol: prometeu oferecer ajuda a Messi pagando suas contas médicas e proporcionando a mudança do argentino para a Espanha, para que ele fosse matriculado na academia de base do time catalão, a famosa “La Masia”.
Os primeiros passos de Messi no Barcelona
Assim como no Newell’s, Lionel Messi também liderou no Barcelona uma geração que ficou conhecida como a “Geração de 87”. A diferença é que uma parte desse grupo de jogadores chegou a atuar junto no time principal e fazer história. Lionel Messi, Gerard Pique e Cesc Fàbregas, todos nascidos em 87, atuaram juntos por anos na base do clube catalão e se reencontraram no futuro para faturar títulos no time principal. Ambos tiveram passagem pela Inglaterra antes de voltar ao Barça, com Pique atuando no Manchester United e Fàbregas pelo Arsenal.
Sua primeira partida veio em 7 de março de 2001 contra o Amposta e ele marcou um gol. No entanto, sua carreira parecia ameaçada uma semana depois, quando ele sofreu uma fíbula quebrada para Tortosa. Até hoje, continua a ser a única fratura que ele já teve. Mas em uma idade tão jovem, despertou o alarme em Barcelona e uma coisa ficou clara: Messi não voltaria a jogar pela equipe do Infantil B.
Quando ele se recuperou de lesão, ele começou a jogar pelo lado Infantil A e não havia nenhum traço de sua lesão. E novamente, ele só apareceu em açguns poucos jogos porque Borrell e Benaiges (coordenadores dos times de base) rapidamente o promoveram para o lado do Cadete B (categoria sub-16) em 2002. Foi nesse grupo que ele deixou uma marca real.
Impressionante desde cedo no profissional
Dois anos após chegar ao sub-16 do Barcelona, Messi já fazia sua estreia pela equipe profissional. Em 2004, o argentino entrou em campo no clássico contra o Espanyol para iniciar sua trajetória no time catalão. Seu primeiro gol veio no ano seguinte em 1 de maio de 2005 contra o Albacete. Ele fez história sendo o mais jovem a marcar em um jogo da La Liga pelo Barcelona.
Ele recebeu a cidadania espanhola em setembro de 2005, que finalmente tornou possível para Messi fazer uma estreia na Liga do Campeonato. O primeiro encontro de Messi na Liga dos Campeões foi contra o clube italiano Udinese. Apesar de ter entrado em campo como substituto, ele teve boa atuação ao lado de Ronaldinho Gaúcho, com os dois compartilhando boa química ao passar e receber a bola.
Lionel Messi era tão impressionante que, com menos de 20 anos de idade, já estava no elenco do Barcelona campeão da Liga dos Campeões em 2006 e deixando boas atuações em jogos eliminatórios importantes. Apesar disso, os primeiros sinais de que ele seria uma estrela de um nível bem acima dos demais vieram domesticamente, em partidas do Campeonato Espanhol.
No dia 10 de março de 2007, Messi já mostrava como seria não apenas um grande jogador, mas o cara para as grandes noites. Em um clássico eletrizante contra o Real Madrid, o maior rival da equipe culé, o time da capital espanhola esteve na frente do placar por três oportunidades, mas Messi marcou três vezes para deixar o Barcelona no jogo e, no fim, garantir esse empate. No mês seguinte, outro evento que o colocou em evidência: um golaço contra o Getafe, em que Messi saiu desde o meio-campo passando por vários adversários e até o goleiro. Esse gol foi muito comparado ao que Maradona, outro gênio argentino, marcou em uma final de Copa do Mundo.
Messi: quatro vezes seguidas o melhor do mundo
A evolução de Messi era meteórica, mas seguia constante, o que é mais impressionante. Se em 2007 ele já era capaz de ser influente em um dos maiores clássicos do mundo, o que estaria por vir? Bem… a partir de 2009, Messi começou a comandar o futebol mundial com um Barcelona imparável, do treinador Pep Guardiola. Durante quatro anos, Messi foi eleito o melhor do mundo pela FIFA em todas as oportunidades, faturando a Liga dos Campeões em dois desses anos.
O que mais impressionava é que Messi passava por pequenas transformações nesse período. Iniciou a carreira como um ponta-direita canhoto tradicional, que trazia a bola para dentro para ter ângulo para criar jogadas e finalizar com o pé bom. No entanto, passou a atuar em uma posição mais centralizada, que ficou conhecida como “falso 9”, o que colocou o Barcelona e o jogador em outro patamar e parecia mudar o jeito que o futebol funcionava. Mais perto do gol, Messi aproveitava as falhas de marcação de uma posição antes pouco utilizada para penalizar ainda mais seus adversários com gols e jogadas impressionantes.
O incrível ano de 2012
Lionel Messi quebrou todos os limites do que podemos acreditar em ver com os nossos olhos sobre números no futebol em 2012. Leo marcou 91 gols no total em 69 jogos oficiais, 79 em 60 aparições para o Blaugrana e 12 em nove partidas pela Argentina. A matemática é bastante fácil; essa é uma média de 1,319 gols por jogo. Embora não seja a média de 1.417 do Muller (85 gols em 60 jogos) em 72, bem, não é nem um pouco ruim.
Ou seja: Lionel Messi se transformou no jogador que mais marcou gols em um ano corrido na história do futebol, independente da época e contexto em que estamos conversando. Conseguir essa marca no contexto extremamente profissional do futebol atual é algo que possivelmente não veremos tão cedo.
A sofrida história com a Argentina
Quando Messi surgiu, o povo argentino achava que seria questão de tempo que sua seleção nacional voltasse às glórias. O último título da seleção principal da Argentina foi a Copa América de 1993, mas a geração de Messi parecia que daria um fim a esse jejum, mas não foi o que aconteceu.
Os primeiros sinais eram bons: Lionel Messi foi campeão e melhor jogador do Mundial Sub20 em 2005, além de ser campeão olímpico (medalha de ouro) em 2008, nas Olimpíadas de Pequim. O primeiro grande desafio de Messi com a camisa albiceleste foi de fato a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, em que o jogador já chegava com o status de melhor do mundo. Sob o comando do ídolo Maradona, o resultado não foi satisfatório: eliminação nas quartas de final para a Alemanha e nenhum gol para Messi em cinco jogos de competição, apesar de boas atuações e várias bolas na trave nas partidas anteriores. Começava-se a se questionar se Messi demonstrava a gana que a torcida argentina exige, ainda mais que foi criado fora do país.
No ano seguinte, uma Copa América em casa e a chance da redenção. Mas novamente as coisas não saíram como o planejado para Messi e seus companheiros: eliminação precoce e uma torcida revoltada: muitos relatos de que “Messi nunca seria Maradona” por sua falta de atitude em campo.
A partir de 2014, a história de Messi na Argentina começava a mudar, mas de um jeito que só deixou tudo ainda mais cômico. Os argentinos chegaram ao Brasil para a Copa do Mundo sem acreditar tanto, mas foram crescendo no decorrer da competição e chegaram na final. Messi marcou quatro gols na competição e foi vital para todo o progresso da albiceleste no torneio. Na grande final, vitória da Alemanha na prorrogação, e nem o prêmio de melhor jogador da Copa do Mundo consolava Messi, que estava tão perto de sua maior glória.
No ciclo seguinte, aconteceram duas Copa América, a tradicional que acontece todo ano posterior à Copa do Mundo e outra edição especial conhecida como “Centenário”, realizada nos Estados Unidos. A Argentina se manteve forte após a derrota na Copa do Mundo e conseguiu chegar na final nas duas edições, tanto em 2015 como em 2016, mas um adversário duro do outro lado transformava a experiência de jogar pela Argentina em algo trágico: duas derrotas em mais duas finais, ambas nos pênaltis, para o Chile.
Em 2016, ainda mais duro para Messi. Fez ótimo torneio e o título da Argentina parecia questão de tempo, mas na decisão por pênaltis da grande final, chutou por cima e foi às lágrimas após a partida.
Enfim, apesar dessa brecha em seu currículo, Lionel Messi é indiscutivelmente um dos maiores nomes da história do futebol, sendo frequentemente comparado ao brasileiro Pelé, para muitos o maior de todos. Recordes, recordes e mais recordes. Títulos, títulos e mais títulos. Messi se mostra fiel ao Barcelona e é certamente o maior nome do clube catalão na história. Pagar o tratamento de deficiência hormonal de um pequeno menino argentino de 12 anos mudou para sempre os rumos da instituição, enquanto Messi não se restringiu a isso: mudou o futebol.