O Feudalismo teve o seu início derivado da Queda do Império Romano do Ocidente – processo que consistiu na perda de força, terras e domínio do império que colonizou grande parte da Europa e norte da África – e seu fim a partir do início da Idade Moderna, em 29 de maio de 1453, data em que ocorreu a tomada de Constantinopla e o começo do Renascimento.
No artigo a seguir você encontrará os seguintes tópicos:
- Como surgiu o Feudalismo;
- Como funcionava o Feudalismo;
- A Economia Feudal;
- O Fim do Feudalismo;
Como surgiu o Feudalismo
O enfraquecimento do Império Romano do Ocidente originou várias e sucessivas invasões bárbaras – povos que não faziam parte da cultura greco-romana – nas cidades europeias. Diante do medo de serem saqueados ou escravizados pelos germânicos (bárbaros), os nobres migravam para os campos e áreas rurais, levando consigo a população existente nas cidades.
Essa migração acaba por mudar os sistemas políticos e econômicos vigentes na Europa. Com promessa de serem protegidos, os indivíduos agora participam de um sistema sócio-político e econômico chamado Feudalismo, o qual já existia em pequenos números em sociedades rurais.
É importante ter o conhecimento de que o Feudalismo não surgiu com o êxodo das populações da cidade para o campo. No início do século IV (a queda do império romano data do século V) já existiam propriedades rurais que usavam os feudos como forma de sociedade.
Como funcionava o Feudalismo
O Feudalismo possuía características bem diferentes do que era praticado no Império Romano. Além do poder descentralizado, o sistema funcionava a partir da agricultura de subsistência (modalidade em que o agricultor visa, com seus produtos, garantir apenas sua sobrevivência, de sua família e da comunidade em que está inserido) e sem a existência do comércio, já que era uma economia amonetária. Entretanto, nessa época era comum a prática do escambo, que é a troca direta de um produto por outro.
A sociedade era dividida em três estamentos (forma de estratificação social que praticamente não permite mobilidade. Se difere das classes sociais, as quais permitem a mobilidade social com maior facilidade):
Clero:
O clero no Feudalismo era a atual Igreja Católica. Apesar da reza e a comunicação com Deus ser a função oficial do clero na época, este exercia grande influência política. Nesta época, não existia distinção entre a religião e a política. O clero era responsável por manter a sociedade em ordem, sem revoltas ou movimentos dos camponeses, o que era feito a partir de justificativas religiosas, construindo a ideia de um Deus punidor. O clero era divido em Alto Clero (os que tinham poder político) e Baixo Clero (os que não o tinham);
Nobreza:
Era composta pelo Senhor Feudal e sua família. Sua função principal era exercer sua soberania e fornecer proteção aos habitantes do feudo;
Servos:
Eram aqueles que trabalhavam e sustentavam todo o feudo. Cada família de servo era designada a exercer um trabalho, como agricultura e pecuária. As metas impostas pelo senhor feudal fazia com que as famílias trabalhassem durante quase todo o dia, resultando em uma baixíssima qualidade de vida. Em troca do trabalho, o senhor feudal prometia proteger os servos de ataques bárbaros. Há raros casos de servos que conseguiram ascender socialmente: estes viraram padres e, assim, faziam parte do Baixo Clero;
Os feudos eram, em outras palavras, pequenas vilas rurais com poucos habitantes. A posse da terra e ganho do status de Senhor Feudal era feita através da relação de Suserania e Vassalagem. O processo consistia na doação, por parte do Suserano, de um bem (na maioria das vezes eram terras, mas poderia ser outras coisas, como o uso de uma fonte d’água, uso de um moinho, arrecadação dos impostos pagos para passar numa ponte, dentre outros) ao Vassalo.
Nestas condições, o Vassalo deveria jurar fidelidade e proteção ao doador. O sistema era selado através de uma cerimônia, a qual geralmente ocorria em uma igreja. Tal acontecimento, denominado “homenagem” consistia no ajoelhamento do Vassalo perante ao seu Suserano.
O maior Suserano da época feudal era, justamente, o Rei. Este, que perdera poder político devido ao êxodo das pessoas, doava suas terras para outros que, em casos de confrontos contra o Rei, deveriam ajudar. Era comum que um Vassalo ganhasse mais terras do que poderia administrar e então se tornasse Suserano de algum escolhido (geralmente algum membro da família).
A Economia Feudal
A economia na época feudal tinha como base a agricultura e, em alguns feudos, a agropecuária de subsistência, isto é, os trabalhadores só produziam com o objetivo de sobreviverem, dar alimento às suas famílias e alimentar a sua comunidade. Nesta época, qualquer produção excedente ao necessário para a sobrevivência das famílias dos servos era tomada pelos senhores feudais, a fim de alimentar a si próprio suas famílias (nobreza feudal).
Por esses e outros motivos (como os dogmas radicais da igreja), o período Feudal – e da Idade Média – foi uma época de poucos avanços tecnológicos. Contudo, esses, mesmo que raros, existiram. Um exemplo desses avanços foi a invenção da técnica de Rotação Trienal de Culturas. O processo consistia na divisão do campo de cultivo em três, por exemplo: se um servo é responsável por plantar trigo e aveia, ele dividia seu campo de cultivo em três. No primeiro ano, plantava trigo no espaço 1, aveia no espaço 2, e deixava o espaço 3 em período de descanso. No ano seguinte, plantava trigo no espaço 2, aveia no espaço 3, deixava o espaço 1 em período de descanso, e assim sucessivamente. Essa prática ajudava a conservar a fertilidade do solo e aumentar a produção agrícola.
A economia nos feudos era praticamente amonetária, ou seja, quase não havia moedas e o comércio era, na maioria das vezes, nulo. Os servos que plantavam um ou dois tipos de alimentos e, por isso, precisavam de outros pra viver, praticavam o escambo, processo onde troca-se um elemento pelo outro, por necessidades ou interesses de ambas as partes.
Os impostos e tributos que deveriam ser pagos e exercidos pelos servos aos senhores feudais e ao clero eram muitos, e alguns podem ser observados abaixo, como:
Talha:
Grande parte da produção do servo (geralmente um terço), deveria ser entregue à nobreza;
Corvéia:
Além de trabalhar em suas próprias terras, os servos deveriam exercer um trabalho compulsório nas terras do senhor feudal em alguns dias da semana;
Anúduva:
A obrigação de servos de trabalharem em obras voltadas para a proteção do feudo, como castelos, muros e torres;
Banalidade:
Era o imposto cobrado a partir da utilização de ferramentas, bens ou terras do feudo, como forno, celeiro, moinho, estradas, dentre outros;
Formariage:
Quando algum servo desejava casar-se com uma serva habitante de outro feudo, este deveria pagar à nobreza uma taxa;
Dízimo:
O servo era obrigado a destinar 10 por cento de sua produção ao clero;
Taxa de justiça:
Os servos e vilões eram obrigados a pagar uma taxa quando fossem julgados pelo tribunal da nobreza;
Capitação:
Uma taxa paga referente ao número de pessoas na família;
Censo:
Os vilões (pessoas livres) deveriam pagar uma taxa ao senhor feudal;
O Fim do Feudalismo
O sistema feudal, baseado em pequenas concentrações de pessoas, agricultura de subsistência e uma vida rural entrou em declínio no século XI e praticamente desapareceu no século XIV.
A crise do feudalismo, como é chamada essa fase de declínio da organização sócio-política e econômica foi motivada por uma série de fatores que, pouco a pouco, contribuíram para o fim dos feudos como sistema mais praticado na Europa.
Um dos motivos que impulsionaram o fim desse sistema foi o crescimento demográfico acentuado. Em dois séculos (de IX a XI) a população da Europa praticamente dobrou, o que levou a um início do colapso da agricultura de subsistência, que começara a não ser suficiente para a sobrevivência dos servos e dos feudos. Diante disso, fazia-se necessário, novamente, a existência do comércio, o que nos leva a outro fator importante para a crise do feudalismo: a ascensão da burguesia.
As antigas cidades ainda existiam, eram fortificadas e chamadas de burgos. Nelas morava a burguesia, classe formada por mercadores, banqueiros, artesões e comerciantes. Com a escassez de alimentos dos feudos, a única saída que alguns servos conseguiam enxergar era o êxodo de volta para as cidades, em busca de uma melhor condição de vida. Deste modo, as cidades voltariam a ser muito habitadas, o que favorecia a criação de uma moeda e uma maior agitação do comércio.
Além disso, as Cruzadas (guerras religiosas propagadas pela Igreja por toda Europa e até Ásia) também favoreceram uma maior movimentação comercial no continente europeu. Isso se deu a partir do descobrimento dos europeus de produtos novos, como as especiarias asiáticas do Oriente Médio, que despertavam alto interesse a Nobreza e Burguesia;
No entanto, não eram todos os servos que se moviam para as cidades. Grande parte da população permanecia nos feudos. Contudo, no século XIV houve uma grande epidemia da peste negra (também chamada de peste bubônica), e os moradores rurais, por menores condições de higiene, foram os mais prejudicados. Dessa maneira a produção agrícola diminuiu drasticamente, o que levava aos nobres e senhores feudais pressionarem ainda mais os servos que sobraram, gerando descontentamento e revoltas dos grupos.
A titulo de exemplo das revoltas é possível citar a Revolta Camponesa de 1381. Também conhecida como Rebelião de Tyler devido ao seu maior líder (Walter Tyler), foi um movimento acontecido na Inglaterra em que camponeses se revoltaram com a Nobreza devido à tentativa de implementação de um novo imposto (poll tax). Além disso, a população estava descontente devido à Peste Negra pois, na visão destes, os nobres deveriam fazer algo para interromper as sucessivas mortes nos feudos.
Com todas as mudanças ocorridas em variadas áreas da vida na Europa, surgiu um movimento que marcou o fim do Feudalismo como principal sistema vigente na Europa: o Renascimento.
O Renascimento foi um movimento que abrangia várias áreas como a Arte, a Filosofia, a Cultura e a Ciência. Foi responsável pela mudança da mentalidade europeia na época. A partir do Renascimento (também chamado de Renascença), o teocentrismo (onde Deus é o centro de tudo) deu lugar ao Antropocentrismo (onde o homem é o centro das coisas), o que gerou inúmeras consequências, tais quais avanços tecnológicos, aumento do comércio e implantação do capitalismo como sistema econômico vigente na sociedade europeia.