Futebol Brasileiro

Taça Jules Rimet

Taça Jules Rimet

Apesar de algumas controvérsias que podem ser levantadas, o Brasil é conhecido popularmente como o país do futebol. Isso se deu por como o país construiu sua imagem vitoriosa na história desse esporte, conquistando títulos de uma maneira peculiar em que a alegria sempre teve protagonismo no perfil dos jogadores.

Dessa forma, o Brasil ainda é o maior vencedor de Copas do Mundo da história, conquistando o torneio em cinco oportunidades (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). Agora para entrar no tópico principal desse texto, que é a Taça Jules Rimet, precisamos voltar um pouco no tempo e, de certa maneira, ignorar os últimos dois títulos da Seleção que é conhecida como “Canarinho”.

A primeira Copa do Mundo foi disputada em 1930. No início do torneio, a Fifa concordou que, se qualquer país ganhasse três finais, receberiam o troféu para valer, podendo mantê-lo em seu país de forma definitiva. Depois da goleada da Itália na final de 1970, no México, o troféu foi entregue à Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O troféu foi colocado em exibição no terceiro andar dos escritórios da CBF na Rua da Alfândega, no Rio. O problema é que a CBF e toda a equipe do prédio não contava com o “jeitinho brasileiro” de lidar com as coisas…

O roubo da Taça Jules Rimet

Na noite de 19 a 20 de dezembro de 1983, o vigia noturno do prédio foi dominado por um grupo de ladrões aparentemente sem disposição para abraçar o espírito de Natal.

Embora tivessem elaborado o plano em torno de uma mesa em um bar enquanto bebiam cachaça, em uma trama que foi dito ser oportunista farcicamente, em vez de meticulosamente organizada por um sindicato internacional.

Depois de amarrar o vigia noturno, os ladrões (algumas fontes citaram que havia dois deles, outros três) abriram a moldura de madeira da vitrine à prova de balas que abrigava o troféu e o golpeava. Havia também uma réplica no prédio, cuidadosamente guardada em um cofre (você não pode ser muito cuidadosa), mas os ladrões deixaram isso em paz e partiram com a coisa real.

O crime desencadeou uma busca desesperada pelos perpetradores e pelo troféu. Com várias fundições encobertas dentro e ao redor da cidade, cresceram os temores de que o troféu fosse derretido.

Acreditava-se que o valor da peça era de cerca de 20 mil reais na época, enquanto o Banco do Estado do Rio de Janeiro emitiu uma recompensa pesada pelo retorno seguro do troféu.

Em seu livro O Roubo do Troféu Jules Rimet, Martin Atherton escreve que o presidente da CBF, Giulite Coutinho, fez um apelo em todo o país pedindo a todos os brasileiros para ajudar a recuperar o troféu, dizendo: “O valor espiritual da taça é muito maior que seu material vale a pena ”e que os ladrões não tinham“ sentimento de patriotismo ”. A nação ficou com a cabeça envergonhada.

A polícia iniciou uma investigação intensa, seguindo uma linha de investigação que levava em consideração a possibilidade de ter sido um trabalho interno e condenando as evidências do vigia noturno como inconsistentes. No dia seguinte ao furto, dois homens que haviam trabalhado anteriormente nos escritórios da CBF como zeladores foram presos.

No entanto, nenhuma acusação foi feita e o troféu nunca foi descoberto, acredita-se que tenha sido derretido e vendido como ouro. Em 1989, um dos suspeitos presos – Antonio Carlos Aranha – foi encontrado morto depois de baleado sete vezes.

E assim o glorioso troféu – a estatueta dourada de 30 cm de altura da Nike, a deusa grega da vitória, feita pelo escultor parisiense Abel Lafleur em 1929 – desapareceu para sempre …

… Será mesmo? É aí que entra essa confusão de intrigas. Aquela noite de dezembro no Rio não foi, de forma alguma, a primeira vez que a segurança do Troféu Jules Rimet foi comprometida.

De acordo com o documentário italiano The Rimet Trophy, de Lorenzo Garzella, Filippo Macelloni e César Meneghetti, o maior prêmio do futebol foi ameaçado pelos nazistas. E eles ficaram muito perto de passá-lo. Durante a segunda guerra mundial, o troféu foi conquistado pelos vencedores de 1938, a Itália, em um banco de Roma. Temendo pela sua segurança, o presidente da Federação Italiana de Futebol, Ottorino Barassi, levou o troféu para fora do banco e para o seu apartamento na cidade. No entanto, os nazistas seguiram o cheiro e fizeram uma busca na casa de Barassi. Mas eles não foram completos o suficiente. Eles sentiam falta da velha caixa de sapatos escondida embaixo da cama de Barassi, o troféu escondido por dentro.

Depois da vitória da Alemanha Ocidental na final de 1954, na Suíça, o troféu ficou em Frankfurt. O fotojornalista Joe Coyle afirmou que, tendo estudado certas fotografias, o troféu levado para a Suécia nas finais de 1958 era 5cm mais alto e tinha uma base alterada da versão de 1954, mas nunca foi verificado se o troféu foi adaptado ou trocado enquanto estava sob Controle alemão.

Obs: quando uma seleção vencia a Copa, ela ficava com um troféu por um tempo para as celebrações, o que possibilitava essas histórias. Em definitivo, apenas para o Brasil após 1970.

De lá, vamos para a Inglaterra para o nosso próximo incidente com o Jules Rimet. O troféu estava em exibição pública no Westminster Central Hall três meses antes de os homens de Alf Ramsey começarem o torneio de 1966. Imagine um tranquilo almoço de domingo, quatro seguranças de plantão cobrindo o prédio de dois andares. Uma verificação de rotina do troféu às 11h: tudo bem. A próxima verificação de rotina às 12h10: a caixa de vidro que segurava o troféu quebrou, as portas dos fundos do prédio se abriram, o troféu desapareceu. Ninguém viu isso sendo levado.

Um pedido de resgate foi feito ao presidente da FA, Joe Mears, mas apesar de um homem ter sido condenado por “estar envolvido em roubo após o fato” e “exigir dinheiro com ameaças”, não havia evidências ligando-o à invasão em Westminster, e a identidade dos ladrões – assim como no Rio em 1983 – nunca veio à luz.

Ironicamente, em meio à indignação do mundo do futebol diante dessa falta de segurança inglesa, Abrain Tebel, da CDB, proclamou: “Isso nunca teria acontecido no Brasil. Até os ladrões brasileiros amam o futebol e nunca cometeriam esse sacrilégio ”.

Mas ao contrário do Brasil, em 1966 o troféu foi recuperado. Pickles, o cão, veio ao resgate sete dias após o roubo, descobrindo o troféu embrulhado em jornal do lado de fora do jardim da frente de uma casa em Upper Norwood, no sul de Londres. Até hoje ninguém sabe como chegou lá.

A FA encomendou uma réplica de troféu a tempo para o torneio, e um policial de plantão em Wembley para a final recontou que trocou o original pela réplica com um exultante Nobby Stiles logo após o jogo. Esta réplica foi usada na festa oficial daquela noite no Royal Garden Hotel, em Kensington, e em eventos de publicidade subsequentes.

Surgiram rumores de que o troféu que a Inglaterra devolveu para o torneio de 1970 era na verdade a réplica (uma troca possivelmente feita por engano, já que a réplica era convincente).

O troféu que permaneceu na Inglaterra foi leiloado em 1997 e comprado pela Fifa por impressionantes £ 254.500, com a chance de que talvez, apenas talvez, os rumores fossem verdadeiros e este fosse o original. Eles o examinaram por um especialista em joalheria. O resultado: foi a réplica, o que significa que a taça real foi para o México e foi posteriormente levada de volta para casa pela equipe vitoriosa do Brasil.

Apenas um mistério permanece: o que aconteceu com o troféu depois daquele roubo de 1983 na Rua da Alfândega? Foi realmente derretido em barras de ouro em uma fundição brasileira? O escritor de futebol Simon Kuper expressou suas reservas sobre essa teoria, apontando que o troféu original não era feito de ouro sólido, mas de prata revestida de ouro.

Algo curioso é que, em 2015, tomou conta do noticiário a seguinte manchete “Pedaço da Taça Jules Rimet é encontrado”. O título parece animador, mas logo que abrimos as notícias percebemos que esse pedaço tinha sido encontrado na própria sede da Fifa, em Zurique. Assim, fica fácil perceber que não se tratava diretamente da peça roubada no Brasil: era apenas um pedaço antigo de outra versão da Jules Rimet, que sofreu retoques em 1954.

A partir de 1974, a seleção que faturasse a Copa do Mundo passou a receber outro troféu, com a Taça Jules Rimet sendo propriedade do Brasil. A nova taça do torneio de futebol mais importante do planeta foi desenhada por um italiano chamado Silvio Gazzaniga. Mais de 50 propostas foram enviadas e ele venceu. Diferentemente do que aconteceu antes, nenhum país recebe em definitivo a versão original da atual taça da Copa do Mundo de futebol.

Fazendo um exercício imaginário, caso essa tradição tivesse sido mantida, Alemanha e Itália seriam as outras seleções a faturar uma versão original de um troféu de Copa do Mundo – cada uma deles tem quatro títulos. Três desses da Alemanha, inclusive, são de depois de 1970.